terça-feira, 28 de setembro de 2010

Xibom Bombom, por Karl Marx

Ah, os anos 90... época de verdadeiras músicas de protesto, onde os artistas tinham coragem de expor a sua opinião política, seu descontentamento com o mundo e seus idéias revolucionários. Época de artistas corajosos e não essa viadagem colorida atual.


As Meninas, grupo que abalou as estruturas do Planeta Xuxa nos anos 90, foi o maior exemplo da classe de artistas intelectualmente desenvolvidos e com músicas que contestavam o establishment.


Muitos podem falar que o Chico Buarque é o maior representante dessa classe. Muitos que não tem noção de história, obviamente. Chico Buarque não atingiu as massas do jeito que As Meninas atingiu. Chico Buarque nunca tocou no Domingo Legal, nunca foi no Planeta Xuxa, nunca nem sequer tocou em um trio elétrico. Bom xi bom bombom jogou o comunismo para o povão.


Aliás, Chico Buarque já fez uma música para Karl Marx? As Meninas fizeram! Xibom Bombom é um manifesto, praticamente um O Capital em ritmo de axé.





Bom xibom, xibom, bombom!

Bom xibom, xibom, bombom!
Bom xibom, xibom, bombom!
Bom xibom, xibom, bombom!

Pura onomatopéia? Sim, superficialmente. Mas no fundo é uma crítica ferrenha as sociedades capitalistas, baseada em pensamentos de Marx, que não aceitava separação entre o real e o abstrato, já que isso são apenas abstrações mentais analíticas. Ou seja, um refrão onomatopéico iria divertir o povo e ao mesmo tempo adentrar a mente humana.

Analisando
Essa cadeia hereditária
Quero me livrar
Dessa situação precária...(2x)

Revolução! Era isso que As Meninas pregavam. Marx já dizia que a revolução tem que ser necessariamente sangrenta, já que o Estado nunca iria abrir mão da sua condição de oprimir o povo. Esse povo que analisa a sua cadeia hereditária, os seus antepassados, seus pais e não enxerga nenhuma mudança na sua condição de reles manobra de movimento dos governos. Essa massa revoltada quer se livrar dessa situação precária e sabe que a revolução e o socialismo são as únicas saídas contra o poder político.

Onde o rico cada vez
Fica mais rico
E o pobre cada vez
Fica mais pobre

E o motivo todo mundo
Já conhece
É que o de cima sobe
E o de baixo desce
E o motivo todo mundo
Já conhece
É que o de cima sobe
E o de baixo desce...

Nesse trecho As Meninas citam claramente a teoria da Mais-valia de Karl Marx, em que o sistema capitalista trabalha apenas para obter lucros. E esses lucros ficam sempre nas mãos de poucos, os proprietários das fábricas, das empresas. O empregado fica sempre renegado a uma mínima parcela dos lucros em cima dos produtos que ele mesmo produz. Sendo assim, o rico sempre fica cada vez mais rico e o pobre cada vez mais podre. Isso só aumenta a luta de classes, fazendo com que o de cima sempre suba enquanto o de baixo sempre desça, gerando conflitos sociais. Xibom Bombom é uma chamada para refletir sobre essa posição.

Bom xibom, xibom, bombom!
Bom xibom, xibom, bombom!
Bom xibom, xibom, bombom!
Bom xibom, xibom, bombom!

Mas eu só quero
Educar meus filhos
Tornar um cidadão
Com muita dignidade
Eu quero viver bem
Quero me alimentar
Com a grana que eu ganho
Não dá nem prá melar

Educação, civilidade, bem estar, alimentação digna e salário justo. As bases todas do socialismo estão explícitas nesses versos. É uma transcrição do Manifesto Comunista cuspido e escarrado.

Essa música reúne em poucos parágrafos uma quantidade enorme de informações sobre filosofia, história, sociologia, ciência política, antropologia, psicologia, economia, e comunicação. Tudo isso esfregado na cara da população brasileira todo domingo na televisão. Uma crítica escancarada à nossa sociedade podre. Era como se Stalin tivesse nascido na Bahia e cantasse axé. Um marco na música de protesto nacional. Carla Cristina, uma revolucionária!


Pagode Filosófico, por: @ChicoCabron

Mande a sua análise!


Quer escrever um texto pro Pagode Filosófico?

É só escolher a sua música genial 90's e um filósofo. Depois mande a sua análise filosófica para marcin08@gmail.com.

Por que têm certas letras que só os grandes pensadores explicam.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

No Compasso do Criador, do Katinguelê, e a teologia

Como se sabe, katinguelê é o nome atribuído a criança iniciante na capoeira e aqui, todos nós, somos crianças iniciantes no amor e no lirismo desses rapazes: Salgadinho (Vocal barra cavaquinho), Breno (violão), Udi (pandeiro) e Téo mais Nino e mais o Mário (percussão geral).


A canção que destrincharemos é No compasso do criador, um pagode gospel que pegou em cheio o público do Gugu, que apresentava todo domingo o Padra Marcelo Rossi. Sem dúvidas, um golpe de marketing de mestre.

Uma breve introdução se faz necessária para os leitores “não-músicos” e ateus: compasso, define a Wikipedia como “na notação musical, um compasso é uma forma de dividir quantizadamente em grupos os sons de uma composição musical, com base em pulsos e repousos” e Criador, é o Cara lá de cima, o Cara que fez tudo em seis dias e que no sétimo descansou (maiores informações sobre, favor seguir @Ocriador).



Podemos deduzir que a canção se trata de um ser supremo fazendo uma música pausada e quantizada. Aí o mistério se revela: Salgadinho quando canta esta canção, está nos levando a um plano superior, onde o amor e a teologia se cruzam, se remixam em magia e gozo.

Eis:

Ao teu lado eu sou criança/
Nosso amor é feito um rio/
E a gente navegando nele/
Deságua dentro da paixão/
Nossos barcos são as nossas emoções

Nesta primeira estrofe, recorro ao famoso filósofo Pedro Abelardo (1079 – presente) que disse: “É ridículo pregar aos outros aquilo que nem nós nem os outros entendemos”. Como se percebe, Katinguelê tem relação forte com a capoeira, não com a navegação. Abelardo era um contestador nato e castrado (quem mandou engravidar Heloísa?). O estrofe teria melhor sentido se a palavra rio fosse substituída por “roda de capoeira” e navegando fosse alterada por “gingando”.

Nosso amor é feito um vinho/
Destilando nos corações/
O nosso amor é infinito/
É tudo que a gente quiser/
Basta eu ser o seu homem/
E você minha mulher/

Vemos na segunda estrofe que o “nosso amor é infinito”. Abelardo, nosso filósofo em questão, caiu de amores por Heloísa, um amor proibido que venceu barreiras. O teológico “crescer e multiplicai-vos” também se faz presente e é norte na vida destes jovens apaixonados. O fato de bastar ser o homem e ela, a mulher, significa que o coito substitui o onanismo, dando lugar a fecundação. Abelardo, fecundou Heloísa e, como dito anteriormente, lhe custou os culhões.

Meu amor/
Te chamo na minha canção/
Vem, me beija/
Vamos viver essa emoção/
Chuva cai/
E abençoa essa nossa união/

Terceira estrofe: clímax.

Abelardo é o atual precursor (percussão) do racionalismo francês. Quando duas pessoas se amam, nada melhor do que viver este amor de maneira racional e lógica. Então chamar, vir e beijar seguem uma linha temporal lógica. Abelardo, após castrado, se matriculou num mosteiro e Heloísa num convento. A distância entre eles está aí, representada no chamar, no vir, no “me beijar”. Quanto a chuva, entrando mais uma vez no campo da teologia, de fato não tem nada de benção. Chuva é o estado líquido das nuvens, caindo de cima para baixo. O fato de não enxergarem isto, mostra o quão embriagante o amor é.

Devagar a gente chega/
No compasso do criador/
Divino Deus.../
A gente chega nas estrelas/
Chega onde a gente quiser/
Só não chega se acabar a nossa fé

Quarta estrofe: Luz!

Pedro Abelardo, nosso filósofo castrado e apaixonado, que morreu amando a mesma mulher, que sofreu ¾ de vida disse que ”Deus faz aquilo que quer, mas como só quer aquilo que é bom, Deus só faz o bem”.

Dito isto, Pedro Abelardo e Katinguelê encerram a canção de maneira abstrata: se Ele quer, será. No compasso/tempo/vontade do Criador, o Divino, a gente chega. E chega longe, é só ter Fé.

Paz!

by @DdCoimbra

Pagode Filosófico, por: @ChicoCabron

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Querubim, dos Travessos, por Marshall McLuhan

Os Travessos nunca foi um grupo tradicional. Eles eram trangressores até mesmo em seu segmento, o pagode. Rodriguinho, Fabinho, Rodrigão, Chorão e Edimilson Salvino eram uma éspecie de Os Jetsons do pagode nacional. O visual deles sempre foi muito moderno, cheio de coletes brilhantes em tons de cinza e dourado, além da boina meia-aba de Rodriguinho, que virou febre na classe média nacional.

Os Travessos estavam para o Gugu como o Molejão para a Xuxa. E Quem nunca nos anos 90, em um domingo a tarde vendo Domingo Legal, pensou "Eu quero ser um Travesso!" que atire a primeira pedra.


Mas todo esse fenômeno não foi fácil. Afinal de contas, é difícil fazer música com conteúdo no Brasil, terra de músicas rasas e sem enbasamento teórico.

Um dos maiores sucessos dos Travessos, por exemplo, foi o clipe de Querubim. Com uma linearidade toda pautada nas teorias de comunicação de Marshall McLuhan, o clipe foi considerado um marco na história da internet. Os Travessos, além de transgressores, eram visionários das mídias sociais.

Vamos ao clipe:


Ele incia com vários amigos andando em uma pista de skate, quando chega Rodriguinho. Chorão diz "Meu, cês viram o tanto de mina que tem nesse lugar?".

Uma clara referência a Teoria da Aldeia Global, de McLuhan, onde o meio é a mensagem e utiliza de metáforas para a sociedade contemporânea, ao ponto de se tornarem parte da nossa linguagem do dia a dia. O clipe já começa com os Travessos deixando claro quem são e de onde são. Da Zona leste de SP.

Logo depois Rodriguinho se mostra um cavaleiro errante, um apaixonado desolado que já perdeu a noção do tempo ao perguntar "E aí, ela está aí?" e ouvir um "Puta, cara. Ela não vem aqui faz muito tempo".

Corta para um cenário totalmente futurística que remete aos filmes de ficção dos anos 60. Os Jetsons do Pagode 90's.

De novo citando McLuhan, o resultado dos efeitos midiológicos na comunicação é exatamento o que mostra a cena. Um homem com o coração quebrado e outros quatro atrás sofrendo junto.

Ai entra a REVOLUÇÃO na internet brasileira .

O clipe foi lançado em 2000 e já nessa época Rodriguinho lutava pela popularização dos notebooks. Um marco.

Viram a @ passando? Pois é. Em 2000 para que se usava @? PARA NADA. Mas Rodriguinho já usava para entrar em salas de bate papo (www.batepapo.com.br). Ou seja, uma clara pista do que seria o Twitter no futuro. Uma previsão do clipe que se concretizou só 7 anos mais tarde!

Logo depois Rodriguinho entra no bate papo e, passando novamente despercebido, uma clara mostra do conceito de "meios de comunicaçao como extensões do homem", ou "prótese técnica". Em outras palavras, a forma de um meio social tem a ver as novas maneiras de percepção instauradas pelas tecnologias da informação. Ou seja, ele estava procurando sua "Querubim" no bate papo, mas também no mundo real. Porém, Querubim estava desconectada, assim como não estava na pista de skate. Roteiro linear.

Mais uma vez voltando a famosa teoria da Aldeia Global, o clipe mostra que as formas de comunicação da aldeia são essencialmente bidirecionais e entre dois indivíduos, isso muito antes de existir celular com internet! Porém, essa teoria não funcionava para Rodriguinho, que não conseguia de forma alguma contato com "Querubim".

Enfim, muito antes de existir notebooks potentes, twitter, iphones, ipads e tudo mais, Os Travessos já apostavam nas mídias sociais. O mais incrível disso é que eles apostaram antes mesmo de existir as mídias sociais (no Brasil).

Uma prova de que visão de futuro não faltava aos meninos travessos que conquistaram o Brasil nos anos 90 e que hoje recebem o reconhecimento como VISIONÁRIOS DA INTERNET!

Portanto, você que trabalha com internet hoje, agradeça ao Rodriguinho e ao clipe de Querubim, que colocaram em prática os fundamentos de McLuhan no Brasil.

Pagode Filosófico, por: @ChicoCabron